Portugal é um dos países na Europa onde mais se joga. Não é surpresa para ninguém que os portugueses gostam de jogar, seja nas slots online dos casinos online ou até na tão popular raspadinha. No entanto, com os números a crescer de ano para ano, há quem aponte para esses mesmos números como um problema, e destaque cada vez mais a importância de um tratamento e também de um “travão” por parte do governo para o vício do jogo em Portugal.
Este é o exemplo de Eliana Ribeiro, Nuno Afonso e Pedro Morgado, três investigadores da Escola de Medicina da Universidade do Minho e ICVS que publicaram um sólido artigo sobre o jogo patológico e o seu tratamento. O artigo foi de tal modo aceite pela comunidade médica mundial que foi posteriormente publicado na revista BMC Psychiatry.
Segundo o artigo dos investigadores portugueses, várias psicoterapias como a terapia cognitiva-comportamental, cognitiva, terapia de exposição e até mesmo a terapia de casal, exibem resultados promissores no que diz respeito ao tratamento do jogo patológico.
Sobre o assunto, Pedro Morgado acrescentou: “O jogo patológico já é classificado como uma desordem viciante em vez de distúrbio de controlo de impulsos. Os pacientes que padecem desta condição e de outras similares (cleptomania ou piromania) sentem-se imensamente pressionados pelos seus impulsos para agir, sentindo depois a tão desejada sensação de alívio depois de agirem. Os pacientes com distúrbio de jogo acham o jogo algo agradável, sendo que quando deixam de jogar sentem-se angustiados e com elevados níveis de stress”.
O termo jogo patológico, é muitas vezes referido como “vício do jogo”, onde a pessoa joga consistentemente apesar das perdas ou consequências negativas desse vício.
O problema do jogo patológico é que as pessoas que padecem desta condição acreditam que ganhar é muito mais fácil do que as probabilidades em questão. O tratamento não farmacológico aborda tanto as atitudes, como os pensamentos e as próprias crenças do paciente a fim de ir direto à raiz destes problemas comportamentais.
Quando se fala em vício de jogo ou jogo patológico, é impossível não mencionar as raspadinhas e até mesmo as raspadinhas online, como os autores deste artigo tão bem falam. Para eles, as raspadinhas são um vício negligenciado em Portugal. Os números assustam (como ficou demonstrado no estudo publicado na revista The Lancet Psychiatry), sendo que Portugal se destaca amplamente em dinheiro gasto em raspadinhas, quando comparado com o resto da Europa.
A discrepância chega a ser tão grande que mesmo aqui ao lado em Espanha a média anual ronda os 14€ por pessoa, sendo que em Portugal ascende aos 160€. Como não poderia deixar de ser, tal significa também que o número de pessoas com o problema de jogo patológico é também maior.
Para Pedro Morgado, o vício das raspadinhas em Portugal deve-se a elementos como a facilidade de acesso, o vasto número de pontos de venda e ainda a gigantesca publicidade que alguns órgãos de comunicação social fazem aos prémios atribuídos. Surgem histórias de sucesso “inflamadas” na imprensa, o que se traduz na ideia que é muito mais fácil ganhar do que parece.
Mais ainda, Pedro Morgado faz referência ao padrão dos pacientes no caso das raspadinhas e informa: “De modo geral, os pacientes surgem nas consultas porque algum familiar tomou conta da situação. Normalmente, tal sucede após os familiares verem as poupanças de uma vida dizimadas, ou então quando surgem dívidas avultadas derivadas do vício do jogo nas raspadinhas.
Assim, e segundo os investigadores responsáveis pelo artigo, será necessário que Portugal crie limites para a venda deste e de outros jogos, salientando igualmente para uma fase tardia, a vital importância das psicoterapias que poderão ajudar a tratar o problema do jogo patológico em Portugal.
